O que significa que temos necessidades genéticas de vinculação. A harmonia vem desses sinais de afecto. Espera--se que depois, em adulto, não só mantenha esses vínculos afectivos como seja capaz de os vivenciar, de os reportar, para bem do seu desenvolvimento. Ou que, perante a incapacidade, quando não os tem, de os desenvolver de um outro jeito." O mais importante é não ter medo da ternura. E olharmos para as provas de amor não como uma obrigação, mas no sentido de sermos capazes de nos vincular, de dar e receber. "Isso resolve muitos problemas, mesmo nas pessoas que têm maiores dificuldades, que têm problemas simbióticos", afirma Felicidade Campos.
"O FACTO DE AMARMOS alguém há muito tempo faz-nos muitas vezes pensar que essa pessoa já não precisa de provas de amor."
"Há pessoas com uma história pessoal pesada, que ficam numa grande aflição se o outro não dá provas de amor. Mas se encontrarem alguém que compreenda essa dinâmica, acalmam, vão ganhando confiança e são capazes de reformular sua dependência." Para a especialista, não é pedagógico dizer a estas pessoas frases como: "És dependente do teu marido (ou da tua mulher)." "Estas pessoas que ainda não aprenderam a lidar com essa sua fragilidade, que ainda não tiveram tempo ou espaço para a reformularem, sentem-se encurraladas. E isto perturba completamente a relação." Daí que as fragilidades não se devam explorar, mas ser reencaminhadas para as coisas boas. Para serem resolvidas em consciência. Como explica Felicidade Campos, à . medida que uma pessoa vive bons momentos
SINAIS DE AMOR NO CASAL
No intuito de conhecer melhor os desejos recíprocos, a psicoterapeuta Sylvie Tenenbaum propõe que reflicta neles com o seu companheiro, com a ajuda das seguintes perguntas:
1. Quais os sinais que deseja receber, verbais e não verbais? 2. Quais os sinais que dá, verbais e não verbais?
3. Quais os sinais que recebe, verbais e não verbais?
4. Esta troca de provas de amor e de atenção convém a ambos? Há adequação entre aquilo que cada um espera e recebe?
5. Poderiam ambos obter o que lhes falta, falando simplesmente um com o outro? Se o meu companheiro repara que estou numa roda-viva, pelo menos obtive sucesso na primeira parte da minha comunicação indirecta: isso mostra-me que, aos olhos deles, eu existo. Tudo é preferível à indiferença que o silêncio parece traduzir." Como alerta aquela especialista, não podemos deixar entrar na relação aquilo que passa por indiferença, pois, se para alguns ela significa doçura e tranquilidade, também pode passar por tepidez.
"A forma como os casais expressam o seu amor prediz com grande precisão o futuro das relações", revela Cláudia Morais, psicóloga, especializada em terapia familiar, conjugal e individual pela Universidade de lisboa, no seu existam algumas diferenças entre homens e mulheres, a expressão verbal dos sentimentos acaba por ser um recurso fundamental na manutenção da satisfação conjugal. De facto, sentirmo-nos amados passa muito por ouvirmos o outro expressá-lo. Alguns casais reconhecem que sentem alguma saudade do tempo em que 'tinham' de dar provas de amor ao outro. Com o passar do tempo, é como se tudo passasse a estar garantido, pelo que algumas pessoas deixam de investir nessa área." E se há quem consiga viver bem sem ficar dependente destas demonstrações, também há quem fique completamente preso nestas malhas, sentindo a sua ausência como uma falha na relação. "O facto de amarmos alguém há muito tempo faz-nos muitas vezes pensar que essa pessoa já não precisa de provas de amor", segundo Cláudia Morais. No entanto, a expressão dos sentimentos é de tal forma importante que, a partir do momento em que deixam de existir, "a relação ressente-se" . Daí que os especialistas trabalhem de modo continuado no sentido de "criar espaços terapêuticos em que os membros do casal possam fazê-lo abertamente". Felicidade Campos, psicóloga social e psi-coterapeuta, não gosta da expressão "provas de amor". "Parece uma obrigação. É mais importante olhar para as coisas de um modo positivo. Os sinais de afecto são sempre bons. É pelo lado afectivo que nos desenvolvemos. Nascemos com necessidades afectivas. Em todos os momentos do nosso desenvolvimento, as figuras parentais ou quem as substitui vão-nos dando sinais de tranquilidade, de reconhecimento, sinais visuais, de contacto. Quando isso não acontece, a criança fica numa determinada porque o outro a vai sossegando, há um sentido de sintonia e de apoio à fragilidade, e não de exploração da mesma. "É na ternura que sossegamos, que temos relaxamento. É na busca do bem-estar. E isto só se desenvolve com a troca. As necessidades afectivas mantêm-se toda a vida, mas a maneira como as vivenciamos é que nos vai distinguir", afirma a especialista. Mais do que esperar que os outros nos forneçam a atenção desejada, devemos ser nós mesmos fontes de amor. Tornando-nos dadores, contribuímos para a satisfação das nossas próprias necessidades. E como o outro não pode adivinhar os nossos pensamentos e desejos, mais vale verbalizá-los e fazer pedidos claros e precisos do que ficar eternamente à espera, na expectativa de ser satisfeito. "Ter vontade de agradar, de dar ao outro aquilo que ele espera, é tão importante quanto a busca do seu próprio prazer, sempre dentro do quadro do desejo real em agradar, e não no do dever-obrigação. A alegria que se sente perante a alegria do outro é uma fonte de felicidade inesgotável." Como refere Felicidade Campos, não há relacionamentos perfeitos, há relacionamentos com afecto, vividos e clarificados no momento do desconforto. "Isso é o que cada um precisa de ter presente. Cuidar de uma relação é ter respeito pelas fragilidades do outro, e não explorá-las. É uma relação pela positiva e não pela negativa. Mas isto é uma aprendizagem. É muito bom, quando as pessoas gostam umas das outras, dizer primeiro do que é que gostam: 'Gosto de muitas coisas, mas depois há aqui uns pormenores de que é preciso ir tomando conta.' Não se deve chegar ao ressentimento. Quando há desconforto, há que conversar, enaltecendo aquilo de que se gosta. A relação não tem de ser esforço, não tem de ser desgastante. A isto chama-se maturidade afectiva", conclui Felicidade Campos. •