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13
Jul07

O Sentido do Amor...(1)

Paula Valentina
Esqueça a paixão, esqueça o desejo. Vamos falar de amor no seu sentido mais pleno. Aprende-se a dois, como na dança. Abra o coração e liberte-o.

Por Mariza figueiredo
Be mine. Be my Valentine, dizia o cartão decorado com corações e bichinhos que recebi de outra rapariga quando frequentava o liceu nos Estados Unidos, no coração da América profunda. Estranhei. Mas este foi o primeiro de uma série de cartões que recebi naquele 14 de Fevereiro. E estranhei ainda mais. Tinha 16 anos, estava num país estrangeiro, mas não tardei a perceber que ali o dia de São Valentim não era uma data exclusiva dos casais enamorados. Era para eles, mas também para aqueles que celebram a amizade, a família e outros laços afectivos. Uma festa do amor.

O amor romântico, aquele vivido entre os casais, é, na realidade, apenas uma das facetas deste sentimento único e essencial para a existência humana: o amor. Razão de ser e de viver. Alimento da nossa essência e elemento de diferenciação de outros tantos seres que habitam o planeta. O elo que nos confere vida para além da morte no coração daqueles que um dia amámos e que nos amaram.

Não é de somenos importância que o amor tenha despertado o interesse de tantos estudiosos dos mais diversos quadrantes desde os tempos mais remotos. Da literatura à astrologia, da alquimia à psicologia, da filosofia à ciência, sempre se procurou entender o que é o amor, qual a sua natureza, como se manifesta em nós. E para si, o que é o amor?

“É dedicar uma parte de nós. É ultrapassar o estado do egoísmo ou do narcisismo infantil. E acho que é isso que nos permite viver mais”, responde a psicóloga e psicoterapeuta Conceição Almeida.

“Há demasiadas definições acerca desta palavra para sermos contundentes. Creio que cada um deveria poder ter a sua própria definição. A mim, a que mais me satisfaz é a do Dr. Joseph Zinder, que define este sentimento como a alegria pela mera existência do ser amado”, responde o psicólogo argentino Jorge Bucay, que recentemente lançou em Portugal o romance Amar de Olhos Abertos (Pergaminho).
Amor e marcas
• Kevin Roberts, CEO mundial da agência de publicidade Saatchi & Saatchi, defende que o amor é o caminho para as empresas

• Num cenário em que as marcas perderam a sua essência, achou que o amor era a única maneira de aliviar a febre emocional e criar novos tipos de relacionamentos de que as marcas precisavam

• Lançou o conceito de Lovemarks, que não são propriedade dos fabricantes, dos produtores, das empresas. São das pessoas que as amam

• Baseou-se na sua experiência e na sua intuição, mas também em seis verdades sobre o amor:
1. Os seres humanos precisam de amor. Senão, morrem
2. Amar significa mais do que gostar muito
3. O amor diz respeito a corresponder, aplica-se a um sentir intuitivo, delicado
4. Quem e o que amamos é o que importa
5. O amor leva tempo
6. O amor não pode ser comandado ou exigido

“No sentido mais amplo, sem se situar ao nível do amor de pais ou de filhos, nem do amor sexual ou do amor de Deus, diria que o amor é uma benevolência. E é daí que decorre tudo o mais, todas as expressões do amor”, afirma José Rosa, filósofo e professor da Universidade da Beira Interior. “Hoje confunde-se o amor e o desejo, que são coisas muito diferentes. Deseja-se aquilo que não se tem. O amor é o inverso. É um outro tipo de plenitude. Enquanto o desejo é ‘carente’, o amor é ‘exuberante’ no sentido de que é pleno. Assim, quase paradoxalmente, podia dizer-
-se que só se ama o que se tem e não o que se deseja.”

“O amor aparece nas nossas vidas, no melhor dos casos, quando nos damos conta de que somos amados incondicionalmente pelos nossos pais para além do que façamos ou do nosso aspecto, condição ou aptidões. Aprendemos deles a sentirmo-nos valorizados e reconhecidos e, daí, a amar e a desejar ser amados”, declara Jorge Bucay.

Na realidade, nascemos e não sabemos quem somos. Aprendemos isso nos olhos do outro. É o que explica a psicóloga Conceição Almeida: “Através do outro, reconhecemos a nossa existência própria, a nossa identidade sexual, a diferença como pessoa inteira, diferente e separada.” E é com a mãe que estabelecemos a nossa primeira relação com o outro. É a nossa primeira experiência como ser único.

“E esta primeira relação pode comprometer toda a capacidade de amar de uma pessoa ao longo da vida. A vinculação amorosa-afectiva que somos capazes de estabelecer com os outros tem a ver com a forma como fomos gostados e amados quando nascemos. Estabelece-se uma relação de espelho que permite uma identificação e esta capacidade de vínculo”, comenta a psicóloga. E recorda uma história curiosa que viu num documentário sobre gorilas em cativeiro: as mães gorilas só engravidam quatro anos depois da primeira cria, pois esta precisa durante este período da atenção da mãe em exclusividade. O programa mostrava que, num determinado jardim zoológico, queriam aumentar o número de crias e, numa geração de gorilas, retiraram os bebés às mães mais cedo para que elas engravidassem de novo. Quando chegaram à fase adulta, os gorilas que foram retirados às mães não sabiam fazer sexo. “Ao contrário do suposto, isso não se aprende por imitação. É qualquer coisa que tem a ver com a identificação. A génese da capacidade de amar tem a ver com o estado de paixão que se estabelece entre a mãe e a sua cria. E é curioso vermos isso comprovado mesmo no parente animal mais próximo do homem”, observa Conceição Almeida.
“Para amar, é preciso aprender. Aprende-se tal como aprendemos a querer, a andar, a nadar, a vestir”, refere o filósofo José Rosa. “O amor aprende-se a dois, como na dança”, sublinha Conceição Almeida. Aprende-se na família e com as primeiras pessoas que gostam de nós. Com os pais, mas também com os irmãos, que são os primeiros rivais e os primeiros amigos. “Estas primeiras relações não são escolhidas, mas as outras pela vida fora vão ser. Isto, em princípio, permite um grau de liberdade maior, mas também um risco maior. Quando nos zangamos com os pais e irmãos, temos a segurança de que a relação não será prejudicada. Se nos zangarmos ou fizermos o que não devemos aos amigos, a relação poderá acabar. Temos de fazer uma gestão destes impulsos mais amorosos e mais agressivos. Mas ainda bem que isso se faz primeiro na família, uma vez que é um espaço mais protector para experimentar as nossas capacidades de nos ligarmos”, comenta a psicóloga.

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